Poetry slam, ou apenas slam, é a competição de poesia falada que mais cresce no país. Embora você possa não saber do que se trata, há grandes chances de já ter visto um vídeo: um poeta interpreta seus versos com ou sem microfone, faz gestos, voz alta, por vezes canta, quase sempre sobre temas urbanos, evocando luta e resistência, para, em seguida, ser aplaudido e avaliado por notas de zero a dez. Se você se lembra de algo assim, já sabe o que é slam. O movimento nasceu nos EUA em meados da década de 1980 e chegou ao Brasil em 2008, com o ZAP! (Zona Autônoma da Palavra). Desde então, há mais de 50 grupos organizados ao redor do país, um Campeonato Nacional – o Slam BR –, e o movimento se tornou, nas palavras de Roberta Estrela D’Alva, idealizadora do ZAP!, o maior difusor de poesia popular urbana produzida nas periferias do Brasil. 

Para começo de conversa, o slam daqui é diferente do praticado nos EUA ou na Europa. No Brasil, a competição se popularizou em espaços públicos, diferente dos outros países, onde as batalhas de versos acontecem em bares ou locais fechados. Para Roberta, essa diferença tem a ver com a ocupação do espaço público. “O slam acontece na rua porque você só precisa de pessoas que queiram falar e outras que queiram ouvir, é uma dinâmica muito fácil. Isso vem de uma tradição brasileira da rua, das batalhas de MC, que são muito populares em São Paulo, os cordelistas nordestinos, as rodas de rima do Rio de Janeiro. Tem uma tradição de cultura urbana que vem com o Hip Hop, por exemplo, que também conversa com essa ocupação.” 

Roberta Estrela D’Alva: idealizadora do ZAP! – Zona Autônoma da Palavra

 

Cármen Kemoly: para os coletivos negros, os slams são parte de um movimento mais antigo.

Outra grande diferença é que, no Brasil, a presença de poesias sobre questões de gênero, raça e urbanização, dominam as competições. A voz do slam é periférica, contudo, Roberta explica que a principal questão é o espaço para a periferia ser ouvida. “Costumo falar que slam não dá voz porque ninguém pode dar voz a ninguém. Mulheres negras já tem voz. Agora, que essa voz seja ouvida é que é o desafio, porque ter voz não significa que ela vai ser ouvida. O slam faz com que as vozes invisibilizadas sejam ouvidas porque é um lugar onde qualquer pessoa pode se expressar, tem um viés muito democrático.” 

Recapitulando: uma batalha de poesia em espaços públicos, onde é possível falar sobre gênero, raça, problemas urbanos, e ser ouvido pela plateia. Essa combinação fez com que Teresina também constasse no mapa dos slams realizados no país. Na capital do Piauí, como em várias cidades, as competições de poesia falada ganharam espaço em coletivos de Hip Hop, como o Princípio Ativo, que realiza intervenções culturais em todo a cidade. Cármen Kemoly, uma das defensoras do slam em Teresina, conta que a semente do movimento já vem do início dos anos dois mil, associado a eventos de Hip Hop de norte a sul da cidade. “Desde a universidade já realizávamos saraus. Quando a poesia estava em alta em São Paulo, lembro bem que em Teresina nós fazíamos eventos de rap, e, tal hora, vários MCs recitavam suas poesias. Não era competição de poesia, um slam. Era muito mais a essência do ritmo e da poesia circulando nos espaços. Era uma semente germinando.” 

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