Nos primeiros dias de janeiro deste ano, Júlia Guimarães Cunha, estudante de 18 anos, do Pará, recebeu uma excelente notícia: ela conseguiu nota máxima na redação do Enem. Vale lembrar que o tema cujos candidatos deveriam dissertar para tentar uma vaga na universidade era a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira. Procurada por toda a imprensa, Júlia comentou que a internet foi fundamental para que ela pudesse entender sobre os direitos das mulheres e também passasse a ter interesse pelo feminismo. “Mais do que na escola, na TV ou na família: é na internet que encontramos esse debate”, comentou na ocasião.

post1 Não há mesmo como negar que 2015 foi o ano do webativismo. Seja aproximando as pessoas, levantando hashtags ou simplesmente problematizando o cotidiano, é importante não duvidar do poder das redes: em 2015, as buscas por “feminismo” no Google subiram 86,7%, segundo dados da ONG Think Olga, um projeto feminista criado em abril de 2013 pela jornalista Juliana de Faria. Outra expressão que teve um salto de 354,5% em buscas foi “empoderamento feminino”.

E quem pensa que só Simone de Beauvoir tem propriedade para falar sobre o feminismo em livros que datam do século passado, está precisando dá um Google nas centenas de blogs, páginas no facebook e revistas online que se proliferaram na internet nos últimos anos. “Hoje você tem meninas jovens falando coisas muito próximas da sua realidade e com as quais você se identifica”, observa a jornalista Clarissa Carvalho, que pesquisa em sua tese de doutorado na PUC-Rio, o movimento de humanização do parto pensando a partir do ciberativismo. “Não só as meninas, mas os meninos também estão ligados, jovens do ensino médio. Essas discussões estão passando ali na timeline deles, por mais que eles odeiem”.

Apesar de acender o debate, dar voz as mulheres e levantar campanhas, será que o ativismo atrás do computador é realmente democrático? Uma campanha no Twitter pode ser verdadeiramente eficaz? Como 120 mulheres de quase todos os cantos do mundo se uniram para fundar a Capitolina, uma revista online, que fala para outras tantas mulheres, de todo o mundo? Estas são algumas das questões que Revestrés quer debater nesta reportagem, que ouviu mulheres diferentes, de diversos lugares, estilos e classes sociais, unidas pela condição de ser mulher.

Só para meninas

Elas tem entre 18 e 30 anos, trabalham, estudam, escrevem e vão à luta. Divididas entre suas experiências pessoais e a obrigação que sentem em compartilhar isso com outras meninas e mulheres do mundo inteiro, as criadoras e colaboradoras das revistas AzMina e Capitolina têm em comum a ideia que as originou: a certeza de que as revistas femininas disponíveis hoje no mercado não falam para mulheres reais.

“As revistas femininas não falam pra nenhuma mulher que eu conheço”, dispara Nana Queiroz, 30 anos, jornalista, escritora e ativista. “Falam para uma mulher que tem tempo demais pra beleza, que só se importa com dietas, que é superficial, loira, magra e sarada. Quem é assim, meu Deus?”. Em 2014 Nana protagonizou o episódio que foi o embrião da revista AzMina, da qual hoje é editora executiva: ao tomar conhecimento sobre os dados de uma pesquisa do IPEA, “Tolerância social à violência contra as mulheres”, que concluiu que, para 26% dos brasileiros, mulheres que mostram o corpo merecem ser atacadas, ela foi até o Congresso Nacional, tirou a blusa e escreveu no corpo “Eu não mereço ser estuprada”.

Ao protesto de Nana somaram-se milhares de mulheres no Brasil. A campanha ganhou as TV’s, as páginas de jornais e revistas e foi tratada por veículos internacionais como The Washington Post, BBC, Cosmopolitan e The New Internationalist. A partir daí Nana percebeu o poder da quebra do silêncio e teve a ideia de formar uma associação focada em usar a informação, o jornalismo investigativo, a cultura e as redes sociais para empoderar mulheres. Estava dada a largada da revista AzMina.

“O que a gente fez foi juntar um bando de minas maneiras, jornalistas e artistas talentosas aí desse nosso Brasil pra fazer uma revista feminina que seja para a mulher real”, explica a editora. “A ideia era não dizer que tipo de mulher a leitora deve ser, mas dar ferramentas pra ela decidir sozinha”. O projeto ganhou forma através de um crowdfunding feito em 2015 – bimestral, AzMina está na sua terceira edição e fala de diversos temas, de saúde mental na maternidade a mulheres negras trans.

Ao todo são 16 colaboradores – entre mulheres e homens – de Brasília, São Paulo, Minas Gerais, dos Estados Unidos e da Europa, que dividem uma redação virtual e fazem reuniões mensais via Skype. “Os critérios para escolha das pautas são bem parecidos com os do jornalismo: relevância, atualidade, etc; mas com foco sempre em temas femininos”, revela Nana, para quem a revista virou mais do que um simples veículo comunicacional. “Nos tornamos um centro de ideias que usa a informação e o jornalismo para empoderar mulheres”, acredita.

Nana adianta que a equipe está organizando um grupo de apoio para mulheres em relacionamentos abusivos, ofertando palestras e debates que aprofundem as ideias em torno dos direitos das mulheres. Atualmente, o site da revista tem uma média de 150 mil acessos por mês e cada postagem na página da AzMina no Facebook chega a atingir até 30 mil pessoas.

“A internet tornou o feminismo acessível a todas as mulheres e mostrou que, juntas, somos poderosas”, diz. “Ela é a maior arma das mulheres hoje, mas também é um perigo”, alerta completando: “Muitas podem esquecer que ali é só o começo da luta, o final acaba offline”.

Com foco no público teen, a revista Capitolina surgiu em abril de 2014, também em um espaço completamente virtual: tudo acontece online, da escolha dos temas à reunião de pauta; tudo é feito através de chats no facebook.

Diferente da AzMina, a Capitolina é mensal e temática: a cada edição, um tema é pensado para dar origem a diversos textos, ilustrações e matérias. “Escrevemos as coisas que gostaríamos de ter lido na nossa adolescência”, explica Maíra Carvalho, colaboradora e coordenadora de Social Media da Capitolina. “O que significa ler gênero de maneira diferente, reconhecer que existem outras orientações sexuais que não só a heterossexualidade, ler coisas tipo games, literatura e saúde, ver outras possibilidades de beleza e por aí vai”.

Aos 25 anos, ela passa o dia online e fala que entrou na equipe depois de adicionar no Facebook feministas que conheceu na internet. “No ano passado, quando a Capitolina expandiu seu quadro de colaboradoras, eu fui convidada a fazer parte”, explica ela, que hoje integra um grupo bem articulado de 120 mulheres.

A estudante de nutrição do Rio de Janeiro, Fabiana Pinto, 20 anos, também entrou na Capitolina como colaboradora da coluna “Culinária e Faça Você Mesmo”, em junho de 2015. Hoje ela colabora com outras seções, como “Música” e “Educação, Vestibular e Profissão”. “A Capitolina se destina a jovens adolescentes que estão começando a sair do universo infantil e ter seu primeiro contato, como mulher, com o mundo machista em que vivemos”, observa. “Ou seja, é nesse instante que as meninas começam a sofrer opressões por parte dos meninos, família ou da mídia”. Para ela, a revista ajuda as garotas a “se blindarem” do universo machista e a terem acesso a informação sem tabus, preconceito ou repressão. “Quando uma adolescente de 13 anos que está cheia de questões, se descobrindo, lê um texto nosso que diz que tudo bem se você, por exemplo, gostar de meninas, ela vê ali uma força e principalmente uma representatividade”, diz Fabiana.

Para ela, a internet possibilitou que muitas mulheres tenham acesso a discussões importantes sobre seu universo. “Quando uma dona de casa tem acesso ao Facebook e vê circulando pela sua timeline uma imagem ou texto que remete às questões que o movimento feminista apoia, nós temos um avanço e novas pessoas são tocadas”, acredita. “São passos de formiguinha, mas já conseguimos ver essa disseminação de conhecimento e o tão falado empoderamento das mulheres”, defende.

Ao menos no que demonstram os números, os passos são larguíssimos: em 2015 a página da Capitolina no Facebook cresceu 75%, chegando a 35 mil likes. No site, foram mais de dois milhões de acessos.

“A existência da Capitolina não seria possível sem a internet”, diz Maíra, que observa a rede como uma ponte entre revista e público, mas também entre a própria equipe. “Como juntaríamos tantas colaboradoras e como mostraríamos esse conteúdo de maneira tão acessível para quem lê e para nós que escrevemos?”, reflete.

Mulheres diferentes, unidas no mundo virtual por uma luta real: a equidade. “Para mim, o feminismo representa a liberdade, principalmente como mulher negra, que pude conhecer os meus direitos e através dessa rede de amigas pude me fortalecer”, aponta Fabiana. “O machismo nos vendeu a mentira de que diferenças biológicas nos fazem merecer tratamento diferente e menos respeito”, diz Nana Queiroz. “Feminismo é a ideia de que, enquanto seres humanos, as mulheres têm dignidade à altura dos homens”.

Tem para tod@s?

A jornalista e doutoranda em Comunicação Clarissa Carvalho pesquisa o movimento de humanização do parto – e como isso se alia na questão de gênero e do feminismo – a partir da internet como um lugar de ativismo. “Não só como um lugar de troca de informações, mas como o apoio às ações, a divulgação dos casos, a construção do comum”, explica a pesquisadora. Numa época em que nem se falava em ciberativismo ela começou a ler e pesquisar blogs de mulheres que trocavam experiências sobre maternidade e outros assuntos na internet.

Uma experiência pessoal – o fato de escrever um blog para falar da maternidade, ainda no início dos anos 2000 – a fez perceber isso como um campo rico de pesquisa. Com a tese “Meu parto, minhas regras”, ela diz que tenta entender como tudo isso se encaixa na questão do gênero e como a internet funciona como locus de construção. “As mulheres se constroem ativistas e passam a entender determinadas questões pessoais como questões políticas, e era isso que eu queria perceber”.

Ela ressalta que, embora a internet tenha facilitado os encontros, muitas questões são anteriores a era da banda larga. “A primeira rede de humanização do parto, por exemplo, é anterior à internet e os membros trocavam cartas”, conta Clarissa, que, no entanto, observa a aproximação que a internet traz de temas relacionados ao feminismo cada vez mais cedo para as mulheres. “Hoje eu vejo meninas muito jovens falando de coisas super próximas das suas realidades, mil blogs que te ajudam a ver que é uma coisa de problematizar o dia a dia”, defende.

Clarissa não discorda que a internet facilitou o debate, mas alerta: não podemos cair na ilusão da democratização – a internet não chega para todos e de todas as maneiras. “É óbvio que é um movimento principalmente de mulheres de classe média e classe média alta. Até ter o acesso físico e o acesso aos saberes para manusear aquilo, os códigos, para você procurar uma página e tudo, depende de uma série de coisas que só a internet não resolve”, analisa.

Apesar das ressalvas, ela aponta 2015 como o ano em que o feminismo balançou as redes. “A internet ajuda muito na problematização do cotidiano”, aponta. Para ela, a hashtag #primeiroassédio, encabeçada pelo blog Think Olga, terminou um trabalho iniciado pela campanha “Chega de fiu fiu”, da mesma ONG. “Ali nós vimos que talvez 99% das mulheres sofreram assédio, e esse sim é democrático: mulheres brancas, negras, amarelas, azuis, 60 anos, 15 anos, pobre, rica, você viu atriz falando e isso tudo fez a gente perceber que o que nos iguala é sermos mulheres”, comenta. “É um assédio de gênero, e isso é importante ser mostrado”. GetAttachment.aspx

Para Clarissa, a internet e o fenômeno das hashtags feministas – uma lógica tão própria do espaço virtual – serve para que as mulheres se identifiquem com histórias alheias. “A internet te dá a chance de estar falando com os seus e com o mundo. Você cria empatia com pessoas que você nem conhece, mas que tem histórias parecidas com as suas”, aponta.

Assim como o espaço virtual aproxima aqueles que pensam igual, também bota em confronto posicionamentos divergentes. Um exemplo disso foi a chuva de comentários contra e a favor de uma questão no Exame Nacional do Ensino Médio em 2015 que trazia uma citação da filósofa Simone Beauvoir – é dela um dos principais lemas do movimento feminista: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. “Acontece que as pessoas pensam hoje que tudo é FlaxFlu, tudo é tomar partido”, opina a pesquisadora. “Ela estava ali como outros filósofos, porque são as pessoas que formaram o pensamento ocidental”, completa. “Essa mulher teve uma importância, concorde você ou não. Você tem que estudar sobre o nazismo, por que você não tem que entender quem foi Beauvoir?”

Escreva, Lola 

Pioneira quando o assunto é feminismo na web e autora de um dos principais blogs feministas do Brasil, o “Escreva Lola Escreva”, atualizado diariamente desde 2008 e com cerca de meio milhão de visualizações de páginas por mês, Lola Aronovich é bem clara quanto à sua convicção: feminismo não é apenas combater a opressão de gênero, mas combater todas as opressões.

Professora do Departamento de Letras Estrangeiras da Universidade Federal do Ceará, Lola dá palestras sobre o assunto e tem milhares de seguidores nas redes sociais. No entanto, o ambiente virtual pode ser perigoso e muitas mulheres sofrem ameaças por conta de suas publicações.

Ameaçada de morte várias vezes por antifeministas, ela foi apresentada aos Men’s Rights Activists, ou MRAs, “defensores dos direitos dos homens”. No Brasil eles se chamam masculinistas e creem que as verdadeiras vítimas são homens hétero, brancos, e proferem discursos de ódio na internet. Com inúmeros boletins de ocorrência registrados, Lola crê no enfrentamento. “No mundo virtual presenciamos fortes e constantes ataques contra o feminismo, um sinal evidente de que estamos incomodando”.

Apesar de leis que proíbem a violência contra a mulher, elas pouco são efetivas na prática. “Mudar as leis é mais fácil, mas é muito difícil mudar a cultura. Muitos homens ainda se veem como donos de suas esposas, namoradas e filhas. E a compreensão que esses homens têm do que é ou não violência pode ser muito flexível. Temos que fazer valer essas leis”, destaca Lola.

Mulher do fim do mundo 

Como diz Elza Soares: “cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”. Na música “Maria da Vila Matilde”, carro-chefe do seu mais recente disco, a cantora musicou a realidade de muitas mulheres brasileiras, verdade que salta aos olhos de maneira mais crua na periferia e na pele negra. A Lei Maria da Penha determina que a violência doméstica é crime, porém, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2011, o Brasil tem 195,2 milhões de pessoas, sendo 100 milhões mulheres e 50 milhões negras, declaradas pretas ou pardas, estas últimas as maiores vítimas de feminicídio.

“Ser feminista negra significa entender que somos oprimidas por sermos mulheres e também por sermos negras, que sem o enfrentamento ao racismo não existe o estabelecimento da equidade almejada, pois algumas sofrem duplamente”, explica Viviana Santiago, pedagoga e escritora no “Blogueiras Negras”, além de ativista pela ONG Plan International. “A percepção de feminismo negro também chama a atenção para a multiplicidade do ser mulher e é reivindicado por mulheres negras, lésbicas e, mais contemporaneamente, pelas mulheres trans”, diz ela. “Se não pudermos pensar essa totalidade estaremos apenas fazendo meia denúncia”, critica Viviana.

Blogueira, Viviana também reconhece a violência na internet. “O que está ali não é novo. A covardia e a misoginia estão no bojo da sociedade e só estão na internet porque estão em todos os lugares”, acredita, frisando que é necessário monitorar e encaminhar as denúncias para judicializar os casos.

Para mostrar que as mulheres negras também existem no mundo que vai além do virtual, elas também foram às ruas. 10 mil pessoas se reuniram em Brasília em 2015 na Marcha das Mulheres Negras e o ato acabou sendo repreendido pela polícia. No entanto, a marcha recebeu mais de 33 mil tweets em solidariedade, segundo levantamento da ONG Think Olga.

Embora existam leis que apontam conquistas, os empecilhos perduram por décadas nessa falsa abolição. “Temos uma legislação que reconhece que machismo e racismo são crimes, ou seja, constituem a violação dos direitos humanos. Qual é o gargalo? Temos dificuldade em sua operacionalização porque o racismo e o machismo são estruturais”, defende Santiago.

Artenildes Silva, 44, é ativista social e membro do grupo cultural Afoxá, em Teresina. Especialista em Educação e Africanidades pela UFPI, ela destaca a necessidade de outras atuações, como a vigilância diária do cumprimento de algumas conquistas. “A internet atinge um público maior e diverso. É uma ferramenta que, hoje, significa mais que as marchas, as conferências, as assembleias, quando estas debatem pautas já esgotadas como a implantação de leis que já existem”, critica, frisando que a militância está nas atitudes do dia a dia.

Artenildes considera a internet mais um instrumento de luta, que serve para romper amarras. “Nós vivemos numa sociedade mascarada. Então, expor o agressor amplia a discussão”, coloca, se referindo aos casos racistas publicados nas redes sociais.

2015: o termômetro do feminismo na internet 

Encarando a intimidação constante, 2015 foi marcado por mulheres que denunciaram, enfrentaram os próprios medos e romperam o silêncio. Para medir o aumento de interesse sobre o tema, a ONG Think Olga, em parceria com a Agência Ideal, publicou dados sobre esse movimento na internet.

A pesquisa reuniu informações sobre a reverberação de hashtags, campanhas e movimentos nas ruas. Entre eles, o caso de uma participante de 12 anos no programa Masterchef Jr. que sofreu comentários sexualizados na internet.

As mulheres, então, relataram sobre a primeira vez em que foram assediadas. A hashtag foi replicada mais de 100 mil vezes no Twitter e revelou que 9,7 é a idade média do primeiro assédio que a maioria das mulheres sofrem na vida. O Google Trends registrou que a hashtag #primeiroassedio teve mais de 11 milhões de buscas relacionadas.

Júlia Tolezano, a youtuber Jout Jout, motivada pelo assunto, publicou em seu canal o vídeo “Vamos fazer um escândalo”, em que fala sobre a cultura do estupro. Teve quase 1,5 milhões de visualizações. Conhecida pelo vídeo “Não tira o batom vermelho”, onde lista comportamentos que caracterizam relacionamentos abusivos, Jout Jout viralizou com a publicação, que recebeu mais de 1,6 milhões de visualizações.

Outra hashtag que mexeu com as redes foi #MeuAmigoSecreto. Atitudes machistas foram denunciadas e, só no Twiter, foi mencionada 170 mil vezes. Em mais um exemplo de encadeamento cibernético, homens cederam seus espaços na mídia para que as mulheres publicassem textos sobre o feminismo. Por sua vez, a hashtag #AgoraÉQueSãoElas recebeu 5 mil menções nas redes sociais.

As mulheres também foram às ruas. No ato #mulherescontracunha as feministas protestaram contra o projeto de lei do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que dificulta o acesso ao aborto legal e à obtenção de atendimento gratuito e obrigatório às vítimas de estupro. A hashtag foi mencionada mais de 40 mil vezes, 61% delas por mulheres.

É fácil perceber porque tanto alvoroço. Infelizmente, os dados refletem as violências diárias na vida da mulher. De acordo com a pesquisa “Percepções sobre a violência doméstica contra a mulher no Brasil” do Instituto Avon/Ipsos, de 2011, seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica. Ainda de acordo com a pesquisa, 52% acham que juízes e policiais desqualificam o problema, além de que 46% apontam o machismo como principal fator que contribui para a violência.

(Publicada na edição #23 – dezembro de 2015/janeiro de 2016)