Ninguém quis acreditar, dado o barulho feito, mas era a pura verdade: um peido havia explodido na sala, justo no momento em que todos assistiam, com a máxima atenção, ao programa preferido da família. A indignação foi geral, a começar pela mãe que, dedo em riste, apontou em direção ao filho caçula, Jivago, autor da façanha e um rebelde por natureza.

– Não ensinamos bons modos a você?

– Sim.

– Por que então esse despropósito?

– Li que faz bem à saúde.

– Como assim?

– Tanto de quem solta quanto de quem cheira.

– Quem disse tamanha eguagem?

– Cientistas britânicos, da Universidade de Exeter.

– Era só o que faltava!

– Dizem que previne contra várias doenças.

– Por exemplo?

– Câncer, AVC, ataque cardíaco, artrite e demência.

– Lorota das grandes.

– Não, pois fruto de muitos anos de pesquisa.

Calado até então, o pai resolveu entrar na conversa também, logo ele que, no começo, achava não passar de brincadeira do guri, pego no flagra ao soltar um pum.

– Viu onde, filho, tal informação?

– Na internet.

– Que tem de especial esses gases?

– Sulfato de hidrogênio, que preservam as mitocôndrias.

– E daí?

– Elas respondem pela produção de energia das nossas células.

– Só?

– Além de regular as inflamações presentes nelas.

– Feliz com essa notícia, não é mesmo?

– Claro, sempre gostei de peidar.

– Sabemos disso.

– Mas viviam reclamando de mim.

Nessa hora as duas irmãs, citadas indiretamente, não se contiveram e, em tom irônico, alfinetaram o bróder.

– Também pudera!

– Não entendi.

– Você mata qualquer um.

– Dá pra ser mais explicitas.

– Seus peidos parecem carniça.

– Quanto mais fedorentos, saibam disso, mais saudáveis são.

– Credo!

– Não sou eu que digo, queridinhas, mas cientistas renomados.

– Sei não, sei lá.

– Tem mais uma coisa que vocês precisam saber.

– Diga lá.

– As flatulências melhoram a relação entre os casais.

– Não é o contrário, não?

– Logo, tratem de curtir os puns dos namorados e vice-versa.

– Nojeira!

Ansiosa para voltar ao programa, a mãe pede silêncio a todos, quando é surpreendida mais uma vez pelo garotão, com sorriso de deboche estampado no rosto.

– Mais uma coisita, além do já dito.

– Seja breve.

– Não esqueçam que sou um revolucionário.

– Que tem isso a ver com peido?

– Minha missão é libertar o que está preso.