Ultimamente tenho lido bastante sobre as perspectivas do homem contemporâneo. A linha de raciocínio que seguem alguns dos pensadores contemporâneos, mais ilustres e respeitados, tem me deixado perplexo. O que eles constatam, e depois concluem, chega a ser estarrecedor. Mas foram também suas esperanças que me levaram a escrever agora. Acompanhem-me.

O sociólogo Max Weber e filósofos como Walter Benjamim, Adorno, Horkheimer e, particularmente, Herbert Marcuse (ideólogo da geração dos anos 60), foram unânimes ao afirmar seu pessimismo com relação ao homem contemporâneo e seu futuro. Dizem que há uma ordem econômica inexorável. Assim capitalista, legalista, fascista, burocrática, super poderosa que determina a vida das pessoas que nascem dentro desse mecanismo, e com força irresistível. O filme “Matrix” tem essa visão. Weber afirma que estão “determinando o destino do homem até que a ultima tonelada de carvão fóssil seja consumida”.

Falam em pessoas sem alma, sem coração, “especialistas sem espírito, sensualistas sem coração”. Quase zumbis, nulidades que julgam haver atingido um nível de desenvolvimento jamais sonhado pela espécie humana. Afirmam, categoricamente, esses pensadores, que o homem moderno, com sujeito (ser vivente capaz de resposta, julgamento e ação sobre o mundo), desapareceu, ironicamente,  “num cárcere de ferro”. Atacam o que chamam de pseudodemocracia, porque cognominam o povo de “homens-massa” e acham absurdo serem, eles pensadores, governados pela ignóbil massa majoritária. Isso os revolta.

Marcuse, membro do famoso Grupo de Frankfurt e um dos precursores da chamada Nova Esquerda, é mais radical ainda. Afirma que Marx e Freud se tornaram obsoletos. Que não há mais lutas de classes e que os conflitos e contradições psicológicos foram abolidos pelo Estado de administração total. As massas, segundo ele, não têm ego e nem id, suas almas carecem de uma tensão interior, assim como de dinamismo. Suas ideias, suas necessidades e até seus dramas e tragédias “não são deles mesmos”. Suas vidas interiores são inteiramente administradas (vide novelas, programas jornalísticos e policiais) para produzirem exatamente, apenas e unicamente, os desejos e ansiedades que os sistemas de governo podem satisfazer.

Caso nos dermos ao trabalho de pesquisar as técnicas de marketing, merchandise ou publicidade subliminar, ensinadas nas escolas de propaganda, poderemos constatar. Herbert Marcuse diz ainda que “o povo se auto-realiza em seu conforto; encontra sua alma em seus automóveis, seus aparelhos de som, suas casa, suas cozinhas super pesquisadas”. Ele e os demais pensadores citados julgam, e que muito me espanta, que a modernidade é constituída por máquinas, das quais o homem moderno não passa de uma reprodução mecânica. O mais difícil de engolir é que eles proclamam que nenhuma mudança é possível. Porque, esse povo que se pretende mudar, nem vivo está para ser mudado.

O mais incrível ainda é que o único caminho que eles enxergam é uma pesquisa, que eles classificam como de vanguarda, com aqueles que o sistema chama de proscritos, “fora” da sociedade contemporânea. Os perseguidos; os inempregáveis; marginais; prostitutas; mendigos, moradores de rua, grupos que vivem isolados em guetos e prisões. Eles os consideram não tocados pelo “beijo da modernidade”, porque não se ajustaram às peças da engrenagem social.

Sociólogos e psicólogos, como Erich Fromm e Konrad Lorenz, expressam suas últimas esperanças na rebelião do ser humano contra a desumanização que nos é imposta pela cultura e modernidade social. Percebem essa esperança nas neuroses que aparecem nos habitantes das grandes cidades. As toxicomanias; doenças mentais; psicopatias, psicoses, sociopatias, loucuras e criminalidades diversas. Acreditam que esses sintomas demonstram que o homem ainda luta contra sua desumanização. Consideram que os tidos como “normais”, “sãos”, assim o são porque a voz do ser humano neles morreu.

Não é muito louco o que eles dizem? Se fosse dito por qualquer outro grupo de pessoas, nem receberia atenção. Mas afirmado, assim tão categoricamente, por tais cabeças pensantes, tidos e havidos como o supra sumo da inteligência da segunda metade do século passado, é para se pensar, ou não?

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Luiz Mendes

21/12/2016.