por Nayara Barros

 

Caminhando pelo centro da cidade, pude rever o último escombro construído com esmero pelo abandono do teresinense em relação ao seu patrimônio físico e histórico. Curiosamente, a indignação e a raiva que eu costumo sentir quando vejo essas belas casas de um tempo remoto sendo substituídas por construções pragmáticas – como algum estacionamento, ou mais uma farmácia -, essas emoções foram paulatinamente suplantadas por uma deliciosa satisfação de quem confirma uma teoria omitida de qualquer discussão pública e que, por isso, posso garantir o sucesso absoluto dela.

O fato é que, diante dos tapumes que tentavam encobrir a falsa vergonha da demolição, tive um forte indício de que ali, naqueles escombros, residia a principal prova do nosso espírito forte. Explico um pouco melhor, antes que me acusem de não me importar mais com o desmoronar da nossa memória. Lendo Gertrude Stein, na “Autobiografia de Alice B. Toklas”, numa Paris do início do século XX, fui surpreendida com uma observação da autora, quanto à facilidade com que a Cidade Luz se livrava de seus prédios históricos e que isso acontecia com certa regularidade, porque o espírito dos franceses, esse sim, era perene e robusto, logo, podiam dar-se ao luxo de desfazerem-se dessas futilidades históricas e abraçar o novo. O novo! O espírito sobrevivia a todas essas ruínas, as de agora e as futuras.

Vejam só! Paris! Quem diria que o teresinense encontraria um povo irmão na prática de seu desdém histórico na Paris de 1920. É até de se orgulhar!