A mãe de Rita Hayworth disse um dia que ela podia morar em qualquer lugar do mundo, menos parrí. E é por isso que, sempre que o mundo deixa seu coraçãozinho encharcado, ela vai para parrí, morar viver sentir sorrir voar andar correr dançar dançar dançar.  A mãe de Rita Hayworth também disse que ela podia escolher qualquer profissão, menos a profissão de sonhar. E não é bem por isso, mas sonhar é o que sempre deixa Rita Hayworth em pé como quase todo mundo e com a cabeça nas nuvens como só ela. Aliás, é em parrí que ela roça os cabelos na lua e sonha como em nenhum outro lugar, e é no alto da mais feia das torres, negra e fria, que Rita Hayworth se encontra neste momento, respirando o mais puro dos ares. Rita Hayworth domina parrí com o olhar, e com um leve sorriso abre os braços, dá dois passinhos para frente e, contra toda a vertigem do mundo, está à beira de seu próprio abismo. Quem vê de baixo não compreende bem o que faz aquela silhueta balançando balançando balançando sem que se tenha a certeza de que vai se manter em pé ou mergulhar mergulhar mergulhar até que o mundo inteiro seja apenas cimento frio machucando a pele. Nos fones imaginários de Rita Hayworth toca uma valsa, uma valsa para a Lua, e Rita Hayworth segue balançando balançando balançando enquanto parrí gira, gira, gira, gira. A valsa de Rita Hayworth dura sete dias e, dizem, durante este tempo foi ouvida por milhares de pessoas em todo o hexágono, até que se faz silêncio e ela, como se viver fosse a coisa mais normal do mundo, dá dois passos para trás, fecha seu casaco, olha para o céu que é logo ali em cima e agradece com um suspiro. O caminho de casa é longo. Mas com o coração mais leve fica bem mais fácil caminhar.