Nunca foi tão fácil publicar um livro, mas, por outro lado, nunca foi tão difícil vendê-lo.

A predominância da internet nas nossas vidas trouxe alguns aspectos negativos – aceleração, dispersão, desorientação –, e outros positivos: quebra de preconceitos, acesso à informação, democratização da mesma. Hoje, qualquer artista – ou quem se considere assim – pode mostrar ao mundo sua obra em um blog, nas redes sociais ou em plataformas de compartilhamento como, no caso dos livros, Wattpad, Kindle Direct Publishing, Kobo Writing Life, Xinxii, Widbook, entre outras. Isso é ótimo, mas ampliou demais a gama de opções do consumidor. Antigamente, tínhamos o filtro da editora e do editor. Atualmente, não precisamos mais deles.

Todo escritor almeja chegar a uma grande editora, ter divulgação, marketing e distribuição competentes. Mas nenhuma editora quer um autor desconhecido, que não esteja presente nas redes sociais, já com um público alvo formado orbitando a sua volta. É muito difícil levar um escritor a entender isso.

Como agente literária, sou procurada por escritores de todo gênero e estilo. A maioria ainda pensa à moda antiga: quero chegar a uma editora ‘grande’ porque vai apostar em mim, criar plano de marketing, divulgar meus livros e distribuí-los em todo o país. Santa ingenuidade! Isso não existe mais. Pode ter existido no passado, agora, não mais.

Parte do meu trabalho é explicar ao escritor como o mundo dos livros funciona no século XXI. Um escritor não pode apenas se debruçar sobre o papel e se esforçar para criar uma obra-prima. Ele tem que ir atrás do leitor. Este se encontra abduzido por uma miríade de informações em canais diversos como o Facebook, Instagram, Youtube, portais de notícias, plataformas de música etc. Pior: quando se enfada com algo, muda de tema com um clique. Se já era difícil conquistar a atenção de um leitor, agora é mais. Nada de livros grandes, com mais de 300 páginas. Nada de narrativas descritivas demais. A alta literatura tem e sempre terá seu lugar. Mas até ela está mudando.

Todo esse preâmbulo para justificar a espécie de passo a passo que indico para quem deseja ser escritor no século XXI, independente do gênero que escreva.

1) Antes de escrever, tem que ser um bom leitor, de livros bons. Não adianta ler livros de autores iniciantes. Tem que ler clássicos da Língua Portuguesa e autores contemporâneos. Se não souber quem são, vá pesquisar. Leia jornais e revistas de Cultura e Literatura, como a Revestrés, o jornal Rascunho, a nova revista 451. Situe-se e invista bastante tempo na sua formação de leitor.

2) Escreva e revise exaustivamente seu livro. Leia o texto em voz alta e observe cada tropeço. Imprima tudo e revise com lápis, pelo menos três vezes. Se estiver com dúvidas, contrate uma leitura crítica, de um profissional de letras ou do mercado editorial. Vale o investimento.

3) Não pense que uma editora grande vá querer publicar seu livro. Editoras vivem de vendas de livros. Quem vai comprar seu livro além da família, amigos próximos e colegas de trabalho? A maneira realista de começar é fazer uma edição paga. Não há vergonha alguma nisso. Carlos Drummond de Andrade pagou pela edição de seu primeiro livro, Alguma Poesia (1929), 500 exemplares. Escolha uma boa editora, que faça um serviço decente e honesto. Nunca assine o contrato sem, antes, pegar nas mãos um livro confeccionado por ela e pedir a opinião de outros autores que saíram por lá.

4) Vá para as redes sociais e forme seu networking de escritor. Convide outros escritores para amigos; vá às páginas deles, comente e curta o que postam. Crie uma persona literária – a sua maneira única e pessoal de se expressar e comunicar quem é e o que faz –, e não passe um único dia sem postar algo.

5) Faça uma linda festa de lançamento para o seu livro e use sua rede já formada – o seu público-alvo – para divulgar, vender etc.

6) Continue lendo muito. Saia de casa, vá a eventos literários.

Se fizer tudo isso certinho, poderá ser reconhecido como escritor. O que não quer dizer que será sucesso de vendas.

*Valéria Martins é escritora e jornalista

(Artigo publicado na Revestrés#32 – Agosto/Setembro 2017)